DOMFO 03/08/2021 - Diário Oficial do Município de Fortaleza - CE
DIÁRIO OFICIAL DO MUNICÍPIO
FORTALEZA, 03 DE AGOSTO DE 2021
TERÇA-FEIRA - PÁGINA 62
22 Abreviação de Grupo de Trabalho.
Neste eixo o trabalho é sustentado por uma ética que direciona as discussões de modo a pensar os contextos ou as
pessoas em suas especificidades. Entendendo que há a necessidade de possibilidades de abertura para argumentar, para pensar
proposições que se alinhem às nossas práticas, às dificuldades do cotidiano e à multiplicidade de variáveis que dizem respeito ao
cenário do uso de substâncias lícitas ou ilícitas, sendo esse uso precoce ou não. Além do que, consideramos que levantar uma
discussão sobre as políticas e pesquisas recentes é extremamente necessário, ressaltando a importância de espaços democráticos
em sua criação para se alcançar discussões sobre os fatores que estão implicados na violência letal contra adolescentes em
Fortaleza.
De acordo com Araújo (2014), partimos da concepção de que drogas são substâncias capazes de alterar o
funcionamento usual de um organismo como os gregos antigos que utilizavam “pharmakon”, que se refere a uma substância que pode
ter efeitos benéficos ou maléficos, dependendo do seu uso. Essa concepção coloca, no mesmo patamar, drogas lícitas e ilícitas.
Assim, não há uma essência apriorística de substâncias que determinará os efeitos e as atitudes de alguém numa relação causa-
efeito. Faz-se importante ampliarmos a concepção de drogas para além de suas químicas, pensando, por exemplo, nas diversas
relações que constituem a vida de uma pessoa.
O uso de drogas sempre foi presente na historiografia humana. Utilizada para as mais diversas finalidades, o uso de
álcool e outras drogas ganhou status ou valores diferentes de acordo com culturas e critérios adotados pelos grupos que delas faziam
e fazem uso. Alguns fatores demarcaram a eleição do consumo de drogas como um problema a ser pensado e tratado, sendo alguns
deles os processos de expansão e industrialização e o desenvolvimento econômico do modo de produção capitalista. Desses
atravessamentos algumas consequências se deram, como a propagação do comércio e do tráfico de drogas.
Enxergamos a proibição como uma política falha sustentada numa falsa possibilidade de “abolir uma droga e todos os
hábitos relacionados a ela” (RODRIGUES, 2008). Além de criar um mercado ilícito, a proibição coloca as drogas no lugar de produtos
sob os quais não se tem conhecimento ou garantias de qualidade em relação aos processos de fabricação. A proposta proibicionista
também promove um contexto que favorece a naturalização dos mais variados tipos de violência justificados pela desculpa do
combate às substâncias. Rodrigues (2005) coloca que o tráfico é mais uma faceta cruel criada pelo mercado que se interessa em
manter o lucro, fazendo com que a prisão se constitua muitas vezes no próprio território do traficante, erguendo-se cada vez mais
muros invisíveis e visíveis que garantem um distanciamento e uma falsa proteção.
Trabalhamos com a noção de cuidado em liberdade. Assim, quando falamos em Redução de Danos apontamos para
uma política de cuidado que se baseia, principalmente, na autonomia e no respeito às pessoas que fazem uso responsável ou
irresponsável de drogas, e que de algum modo sofrem com isso, entendendo que elas podem querer parar de usá-las ou não. Assim,
consiste em práticas e estratégias de cuidado elaboradas conjuntamente de acordo com os contextos de uso, tentando dar conta de
minimizar os riscos e tornar o uso mais seguro para aqueles que assim desejarem. Reafirmamos a redução de danos como uma
política de cuidado ampla, que inclui estratégias que minimizem também os danos sociais, garantindo condições para que as pessoas
possam cuidar de si, tais como informação e acesso aos equipamentos de cuidado, bem como espaços livres para dialogar.
A proposta deste GT é pensar como o uso precoce de substâncias lícitas e ilícitas se relaciona às mortes de
adolescentes no município de Fortaleza. Quais os cenários a partir dos quais isso se compõe? Quais as políticas de enfrentamento
que já temos e quais ainda estão por ser elaboradas?
Somos convocados a compreender esses usos considerando de modo enfático os marcadores que vão atravessar
esses jovens associados a estigmas relacionados às políticas de “segurança” que se traduzem como ações violentas contra eles.
Diante de todas essas situações relacionadas aos usos de drogas, precisamos nos deter em uma categoria específica
como a juventude/adolescência. A adolescência é um período marcado por muitas perdas e transformações que têm como pontos
centrais questões que atravessam a identidade e a organização corporal. Tais mudanças se expressam num corpo que passa a
assumir um lugar estranho. Essas novas sensações e contornos acabam por expor o sujeito ao desafio de, no limite de um conflito
com a própria imagem, manter certa continuidade.
Entendendo a adolescência como um momento de ruptura que provoca estranhamento tanto no sujeito quanto nos
vários outros personagens que estão ao seu redor, é necessário pensar a experiência com as drogas como possibilidade de
exploração desse campo de novidade que o adolescente habita, entendendo que esses usos se dão no entorno de uma rede de rela-
ções variadas.
EIXO 2 – MODELO COMUNITÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA
A Segurança Pública no Brasil sempre foi um tema discutido sob a ótica da esfera estadual e federal. Segundo
Perrenoud (2007), o recrudescimento da violência urbana passou a incluir nas pautas municipais ações diretas de respostas a este
tema. O sistema de segurança pública é extremamente complexo e envolve a ação direta e indireta de vários níveis de administração
pública, exigindo um entrosamento que é dificultado por diferenças políticas, corporativismos e interferências externas nos diversos
organismos que compõem o sistema.
Como ponto de partida, é fundamental saber que segurança pública é um direito básico de toda população, portanto
uma das principais responsabilidades dos governantes é garantir os valores democráticos, liberdade e igualdade a todos os cidadãos,
bem como a proteção à integridade das pessoas e à soberania de nosso território.
E a segurança, por sua vez, é proporcionada pelo Estado por
meio de: a) um conjunto de normas que determinam o que é
permitido e o que é proibido (as leis); b) políticas públicas que
buscam promover os direitos dos cidadãos com equidade,
igualdade e oportunidades, além de prevenir atos violentos e
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