DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO AMAZONAS Manaus, sexta-feira, 25 de março de 2022 2 “A gora ele vai ser meu pai, como nun- ca eu tive antes”, disse Laura*, de 10 anos. Ela e a família estão entre os mais de 400 atendimentos realizados pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) no dia 12 de março, no mutirão da campanha “Meu Pai Tem Nome”. Iniciativa do Conselho Nacional das Defensoras e Defenso- res Públicos Gerais (Condege), o mutirão ocor- reu em todo o país para promover o reconheci- mento de filiação de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento. No Brasil, o índice de crianças “sem pai” cresceu pelo quarto ano consecutivo, o que despertou a atenção das Defensorias Públicas de todo o país. Para se ter ideia, quase 100 mil crianças nascidas em 2021 não têm a paterni- dade registrada, de acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Natu- rais (Arpen-Brasil). No Amazonas, 23.572 crian- ças foram registradas só com o nome da mãe, entre 2018 e 2021. Os dados são da Associação dos Notários e Registradores do Estado do Amazonas (Anoreg/AM). Laura* era uma dessas crianças sem o nome do pai em seu registro de nascimento. Criada desde os 11 meses de vida pelo padrasto, a me- nina o tem como sua figura paterna e o chama de pai. Ela conhece o pai biológico, mas tem pouco convívio com ele, que não manifestou intenção de registrá-la. “É uma coisa que eu quero desde criança. Agora vou ficar muito feliz. Amo muito ele”, conta a menina, referindo-se ao padrasto e di- zendo que estava ansiosa pelo dia do atendi- mento na Defensoria. O padrasto, José*, relata que conheceu a mãe da menina em 2012 e que se casaram em 2014. “Desde então, eu crio ela como minha filha e ela me tem como pai dela. Como o pai biológico até o momento não se interessou em registrar, e surgiu essa oportunidade do muti- rão, eu vou assumir ela de vez, com documen- to, certidão e tudo”, afirmou. José* explica que entre as razões para regula- rizar o registro da menina estão o acesso a bene- fícios trabalhistas e sociais. “Ela quer muito, é um desejo dela, meu e da minha esposa. E para ela ter direitos aos benefícios que a minha empresa proporciona, como plano de saúde e odonto- lógico, por exemplo, fora os outros benefícios, como o psicológico e social no geral. Por isso ter o nome do pai na certidão é importante”, disse. A defensora pública Hélvia Castro, coorde- nadora do projeto, ressalta que é um direito da criança e do adolescente ter o nome do pai e da mãe na certidão de nascimento. “O nome é um direito da personalidade e como tal, protegido, pois individualiza a pes- soa, distinguindo-a de outras. Consolida o direito de conhecer a sua origem, sua ances- tralidade, sua ascendência. O reconhecimento de paternidade dá ao filho a possibilidade de conviver com o pai e manter uma relação pa- terno-filial saudável. Além disso, traz as conse- quências lógicas da filiação, como o direito aos alimentos e a condição de herdeiro”, reforça a defensora. Campanha Nacional A campanha “Meu Pai Tem Nome” é uma ação coordenada entre as Defensorias Públicas dos Estados para a realização concentrada de sessões extrajudiciais de mediação, conciliação e educação em direitos, voltada para a efetiva- ção do direito fundamental ao reconhecimen- to de filiação, paternidade e maternidade. * Nomes fictícios para preservar a identidade da criança Mutirão da campanha nacional “Meu Pai Tem Nome” foi realizado na sede da DPE-AM, no bairro Aleixo Evandro Seixas/DPE-AM Defensoria realiza 400 atendimentos para reconhecimento de paternidade Mutirão ocorreu em todo o país para promover reconhecimento de filiação de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento VÁLIDO SOMENTE COM AUTENTICAÇÃOFechar