DOMCE 12/06/2023 - Diário Oficial dos Municípios do Ceará
Ceará , 12 de Junho de 2023 • Diário Oficial dos Municípios do Estado do Ceará • ANO XIV | Nº 3226
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No início do século XX, psicólogos começaram a mudar esse olhar sobre as crianças e passaram a considerá-las com necessidades e características
próprias. Essa nova visão foi imprescindível para que houvesse uma profunda mudança de pensamento em relação à forma da sociedade percebê-la
como um ser que necessitava de atividades espontâneas. Em consequência disso, surgiram muitos estudos e pesquisas que visavam comprovar a
valorização das brincadeiras como importantes para o desenvolvimento infantil (ARIÈS, 1981).
O ato de brincar é a forma própria da criança de desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e social, e, assim, através das atividades lúdicas, a
criança forma conceitos, relaciona ideias e estabelece relações lógicas, apropriando-se da cultura na qual já está inserida.
Segundo Oliveira (2001), o brincar na vida da criança provoca um prazer nas ações diárias e fortalece a dimensão psíquica nas relações delas com o
mundo. Dessa forma, na ação de brincar pressupõe-se maior prazer em realizar as vivências, o que consequentemente pode refletir na aprendizagem,
pois para aprender é necessário envolver-se e instigar-se a evoluir e sair de um conhecimento para outro, reconstruindo ou ampliando conceitos,
oportunizando a maturação motora e psicológica.
A brincadeira é fundamental para uma aprendizagem significativa, pois favorece a criatividade, o raciocínio lógico, o pensamento intuitivo e a
competência comunicativa.
Visando ao desenvolvimento integral da criança, cada vez mais os especialistas da Educação Infantil atentam para o fato que através do brincar as
crianças constroem sua afetividade e fazem suas descobertas da sua própria maneira de ser (BRENNAND, 2009, p. 121).
Nesse âmbito, a ação de brincar e todos os fatores envolvidos, como a comunicação através da fala e dos gestos, o domínio dos movimentos, as
noções espaciais e os sentidos, são estimulados.
O brincar pode se apresentar como uma maneira dinâmica para estimular as aprendizagens e consequentemente o desenvolvimento infantil. Nesse
sentido, tanto no ambiente familiar quanto na unidade escolar, a criança precisa brincar, pois essa atividade possibilitará conhecimentos nos aspectos
cognitivo, social e afetivo, ou seja, atuará na sua composição social.
A brincadeira propicia momentos nos quais o ser humano se apresenta como ele mesmo, se expressa com naturalidade e abre as portas do seu
interior, possibilitando conhecer melhor suas potencialidades e também as suas fragilidades. Os comportamentos no meio social também se tornam
aparentes, permitindo transformações e aprendizagens.
Diante de sua importância, a natureza do brincar ou do jogar está sendo vista pelos atributos que a caracterizam: um pensamento de segundo grau,
que se aplica às situações do cotidiano, como simular ser motorista, ou o ingresso no imaginário, que tem a ver com o desempenho do jogador, de
uma reprodução interpretativa. Essa forma lúdica é configurada pela sequência de decisões do brincante quando se trata de um ser social com
capacidade de decisão, com protagonismo, que também é embebida pela cultura na qual vive o brincante, acompanhada por regras, que provém do
exterior, mas que orientam as ações lúdicas (KISHIMOTO, 2014, p.83).
Nesse contexto, cabe apontar que a brincadeira pode ter um papel relevante no enriquecimento e na garantia de atividades sociais da infância,
favorecendo uma melhor compreensão do mundo em que vive. Portanto, o brincar e o jogar não são apenas formas das crianças se divertirem, são
também atividades que potencializam a expressão das opiniões e sentimentos.
A ação de brincar pode ser também uma maneira espontânea das crianças conseguirem expor os seus medos, reações agressivas e os conflitos
internos. Nos jogos, que constituem uma das principais modalidades do brincar, são trabalhadas as questões de ganhar e perder e as reações das
crianças com cada situação seja a alegria da vitória ou a frustração da derrota. Dessa maneira, eles podem favorecer o equilíbrio emocional e
consequentemente o desenvolvimento da personalidade.
Faz-se necessário ressaltar, porém, que para que a brincadeira cumpra seu papel de motivar a imaginação e as interações infantis é preciso dispor
para as crianças espaços e tempos favoráveis, assim como brinquedos adequados à sua faixa-etária e necessidades, proporcionando qualidade na
exploração de diferentes linguagens musicais, corporais, gestuais e de oralidade e escrita. Essa qualidade não está necessariamente em brinquedos
caros, mas em brinquedos e experiências lúdicas que vislumbrem o que deseja incentivar na criança quanto ao seu desenvolvimento.
O lúdico é essencial para o desenvolvimento das crianças principalmente quando se trata das interações. Neste sentido a BNCC destaca:
A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento
integral das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a
expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções (BNCC, 2017, p.33).
aquisição dos conteúdos depende de variados aspectos, dentre eles, social, cognitivo, biológico e afetivo. Assim, as interações oportunizadas por
meio das brincadeiras, jogos e histórias infantis, fazendo com que paralelamente a aprendizagem dos conteúdos seja desenvolvida, como também
para que seja possibilitada a construção de valores que serão agregados ao universo infantil, nas suas mentes e que possivelmente irão ser
incorporados em uma postura positiva por todas as suas vidas.
Brincar é coisa séria, também, por que na brincadeira não há trapaça, há sinceridade e engajamento voluntário e doação. Brincando nos
reequilibramos, reciclamos nossas emoções e nossa necessidade de conhecer e reinventar. E tudo isso desenvolvendo atenção, concentração e muitas
habilidades. É brincando que acriança mergulha na vida, sentindo-a na dimensão de possibilidades. No espaço criado pelo brincar nessa aparente
fantasia, acontece a expressão de uma realidade interior que pode estar bloqueada pela necessidade de ajustamento às expectativas sociais e
familiares (VIGOTSKY, 1994, p. 67).
É importante ressaltar que ao brincar a criança adquire e constrói conhecimentos, fortalece a sua autoestima, desenvolve a sua criatividade e forma
sua personalidade, contribuindo para o desenvolvimento integral da mesma. O brincar colabora para a interiorização de algumas relações com os
grupos sociais diversos nos quais a criança pertence e promove a sua socialização (CASTRO, 2016).
De acordo com Silva (2019) ao longo da história as práticas lúdicas foram investigadas e estudadas em variadas áreas do conhecimento, inclusive, a
psicologia, que alude mais diretamente ao estudo do desenvolvimento e compreensão da parte psíquica.
Os estudiosos conseguiram fazer com que o lúdico tivesse a sua importância reconhecida como recurso de desenvolvimento da aprendizagem e de
formação integral do ser humano. Ainda, refere-se à influência no processo superação das dificuldades de interação e assimilação e aponta como um
dos grandes méritos das práticas lúdicas viabilizar a promoção da imaginação da criança fazendo-a descobrir nos espaços lúdicos uma realidade de
maneira alterada na qual os docentes têm papel fundamental ao propiciar cada momento lúdico (SILVA, 2019).
Para Rocha (2017) a origem da palavra Lúdica trata-se de um adjetivo da língua portuguesa deriva-se do latim de ―Ludus‖ e remete a qualquer
atividade relacionada a prática de brincadeiras, jogos e que promova prazer ou divertimento de modo individual ou coletivo aos praticantes e capaz
de possibilitar conhecimentos. Deste modo, o lúdico pode oportunizar alegria e desenvolvimento no decorrer das práticas lúdicas e nas reflexões a
partir das mesmas.
Nesse âmbito, quando a criança tem a oportunidade de vivenciar momentos de ludicidade, a sua aprendizagem é facilitada e os benefícios que são
adquiridos promovem o desenvolvimento integral, uma vez que há melhora da socialização, da expressão e deixa as dificuldades aparentes de forma
bem mais espontânea do que com uma atividade formal de escrita.
Um aspecto que caracteriza as práticas lúdicas é o de fazer com que as crianças participantes não fiquem inertes, estejam envolvidas e ativas na
busca pelos conhecimentos, muito diferente de apenas explanarem os conteúdos, elas os exploram com ações concretas e com prazer.
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