Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. Este documento pode ser verificado no endereço eletrônico http://www.in.gov.br/autenticidade.html, pelo código 05152024031200006 6 Nº 49, terça-feira, 12 de março de 2024 ISSN 1677-7042 Seção 1 5.1.1.1. Dos comentários do DECOM acerca da manifestação da peticionária a respeito da condição especial de mercado na Rússia para fins de início de revisão 104. Inicialmente, registra-se que o §16 do art. 14 do Decreto nº 8.058/2013 reza que o termo "condições especiais de mercado" inclui situações em que a formação de preços domésticos, em especial aqueles relacionados a insumos básicos, não ocorre em condições de mercado, ou seja, é determinada ou significativamente influenciada pela ação do governo. 105. No que diz respeito aos comentários da peticionária de que produtores russos vendem o "magnésio metálico apenas para recuperar custos de produção do produto final (titânio), praticando preços abaixo do custo de produção do próprio magnésio metálico", ressalta-se que não foram apresentados elementos de prova que embasem a afirmação, o que a torna mera alegação da peticionária. 106. O envolvimento do governo ou o seu grau de intervenção em setores econômicos não é elemento suficiente para que se declare condição especial de mercado. Para tanto, deve-se apresentar elementos que indiquem que esse envolvimento e/ou intervenção interferem na formação de preços. Nessa linha, a peticionária não explicou, por exemplo, em que sentido a reestatização da Solikamsk ensejaria a condição especial em que passaria a operar o mercado de magnésio metálico. 107. Tampouco ficou claro quais seriam os indícios que apontariam no sentido de que os preços de comercialização (de exportação) conhecidos seriam "inferiores ao custo de produção unitário do produto". 108. Já no que tange à primeira notícia apresentada sobre eventuais efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, não restaram comprovados indícios de que o aumento de estoque, destacado na notícia, teria impactado na formação de preços domésticos. No que tange à segunda notícia, observa-se que tem natureza prospectiva, em que se vislumbra possível cenário futuro caso sejam tomadas algumas decisões, como possíveis sanções contra o país. 109. Informa-se que, com base nos dados mirror do Trade Map, as exportações de magnésio metálico da Rússia para o mundo de P1 a P5 apresentaram certa estabilidade (5.332,8 t em P1, 5.552,6 t em P4 e 5.949,94 em P5). Registra-se, outrossim, que o preço dessas exportações indica crescimento expressivo de P4 a P5, de US$ 3.643,17/t para US$ 6.474,0/t. Tal crescimento de preços em P5 está em linha com o crescimento de preços tanto da indústria doméstica quanto das demais origens, consoante dados ilustrado nos itens 6 e 7 deste documento, indicando haver certa influência do mercado mundial na formação de preços do magnésio metálico russo. 110. Dessa maneira, entendeu-se não haver elementos suficientes para considerar condição especial no mercado de magnésio metálico da Rússia, com base no conjunto probatório acostado aos autos. 111. Considerou-se, de todo modo, que a peticionária atendeu aos dispositivos normativos em sua sugestão da metodologia de apuração do valor normal construído, para fins de início de revisão, em especial o art. 48 da Portaria nº 171, de 9 de fevereiro de 2022. Essa metodologia está detalhada no item seguinte. 5.1.2. Do valor normal construído da Rússia para fins de início de revisão 112. A peticionária recordou que, embora o produto final seja uniforme, haveria rotas tecnológicas distintas para a produção do magnésio metálico, quais sejam: (i) o processo eletrolítico, usado na Rússia e em outros países; e (ii) o processo silicotérmico, usado no Brasil e na China (processo Pigeon), sendo que o processo da Rima seria mais eficiente. 113. A peticionária destacou também que os produtores russos fabricam magnésio metálico em complexos industriais combinados de produção de titânio-magnésio, onde se utiliza o processo eletrolítico. A principal diferença entre as tecnologias utilizadas está na matéria-prima utilizada como fonte de obtenção do magnésio. Enquanto a Rima utiliza a dolomita, os produtores russos utilizam a carnalita. 114. A partir das informações técnicas disponíveis e da metodologia considerada na última revisão de final de período do produto objeto, foram apresentados coeficientes técnicos para as matérias-primas, os insumos e as utilidades empregadas no processo produtivo russo, quais sejam: (i) carnalita; (ii) energia elétrica; (iii) óleo combustível; (iv) pasta eletródica; (v) cloreto de sódio; e (vi) nitrogênio líquido. 115. A carnalita utilizada como matéria-prima para obtenção do magnésio metálico através do processo de eletrólise é um mineral com fórmula química MgCl2. KC l . 6 H 2O e peso molecular de 277,852 g/mol. Considerando que o peso molecular do magnésio é igual a 24,305 g/mol, tem-se que, para a produção de uma tonelada de magnésio metálico, são necessários 11.431,89 kg de carnalita (Cálculo: 277,852 / 24,305 = 11,43189 x 1000 = 11.431,89 kg de carnalita por t de magnésio metálico). Entretanto, como o rendimento no processamento na célula eletrolítica é de 77,2%, para produzir uma t de magnésio metálico, é necessário consumir 14.808,14 kg de carnalita (Cálculo: 11.431,89 / 0,772 = 14.808,14 kg de carnalita por t de magnésio metálico produzido. O percentual de 77,2% foi obtido junto à publicação "Magnesium 2000. Proceedings of the Second Israeli International Conference on Magnesium Science & Technology"). 116. Para maior clareza, apresenta-se na tabela abaixo o detalhamento dos cálculos do consumo de carnalita para produzir magnésio metálico utilizando o processo eletrolítico. Consumo de carnalita Composição Química da Carnalita: MgCl2. KC l . 6 H 2O Massa molecular Qtde. de moléculas Massa molecular total Qtde. necessária de carnalita para produção de 1 t de magnésio metálico Rendimento do processamento na célula eletrólitica da carnalita Consumo específico da carnalita considerando o rendimento da célula eletrólitica Legenda (A) (B) C=(A*B) D = Total(C) / A(Mg)*1000 (E) F=(D/E) Massa Molecular Mg 24,305 1 24,305 Massa Molecular Cl 35,453 3 106,359 Massa Molecular K 39,098 1 39,098 Massa Molecular H 1,008 12 12,096 Massa Molecular O 15,999 6 95,994 Totais 277,852 11.431,89 77,20% 14.808,14 117. Apesar de na revisão de final de período anterior o custo da carnalita ter sido construído a partir dos preços de importação de seus componentes (cloreto de potássio e cloreto de magnésio), nesta revisão calculou-se o custo obtido a partir de informação sobre o preço dessa matéria-prima no mercado interno russo. A fonte utilizada para obtenção desse preço foi publicação emitida pela Comissão do Serviço Federal Antimonopólio da Rússia, autoridade concorrencial daquele país, e resultou de processo que visava analisar os preços de fornecimento de carnalita pela empresa Sociedade Anônima Pública Uralkali (Uralkali) à fabricante de magnésio Solikamsk ("Comissão do Serviço Federal Antimonopólio para a consideração do caso 1-10-207/00-05-14 sobre violação da lei antimonopólio", 14 de outubro de 2015, anexos 22 e 22.1 da petição). A autoridade russa apontou, adicionalmente, que os preços de fornecimento de carnalita da Uralkali para a Solikamsk eram fixados em níveis semelhantes aos preços praticados para a outra fabricante russa de magnésio metálico, a AVISMA. 118. O documento faz referência à política de preços adotada pela Uralkali, a qual, conforme as informações levantadas pela autoridade russa, estabelece os preços da carnalita a partir de um "preço-base" que deve ser atualizado periodicamente "pelo aumento previsto no índice de crescimento dos preços ao consumidor". Além disso, de 2013 a 2022, um "componente de investimento" de RUB$ 1.173/t (rublos russos por tonelada) foi incluído no preço da carnalita, para fazer frente a "custos planejados para a reconstrução da fábrica de carnalita e do complexo subterrâneo". 119. Com base nas informações do documento da Comissão do Serviço Federal Antimonopólio da Rússia tem-se a seguinte evolução dos preços da carnalita de 2012 a 2022, na condição FCA: Preço da carnalita no mercado interno da Rússia (sem IVA e frete) Ano 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022* Preço da carnalita (RUR/t) 2.312 3.035 3.148 3.842 4.049 4.151 4.328 4.460 4.679 5.072 5.603 120. O preço doméstico da carnalita de 2022, em rublos, foi utilizado para fins de composição do valor normal, após a conversão para dólares estadunidenses pela cotação média do ano de 2022 até o mês de setembro (US$ 1,00 equivalendo a RUB 73,01), obtida junto ao Banco Centro do Brasil (Bacen), disponível em http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao. 121. Tendo em vista que a publicação da autoridade concorrencial russa menciona expressamente que os custos de transporte não estão inclusos nos preços da Uralkali, o valor do frete foi calculado com base na publicação Doing Business, do Banco Mundial (Doing Business 2020. Economy Profile. Russian Federation, anexo 20 da petição). A publicação é de 2020, tendo a peticionária informado que seria a mais recente disponível até a data de conclusão da petição. 122. O custo de transporte interno apontado na publicação é de US$ 958,00 por contêiner. Para estimar o frete por t, considerou-se que commodities minerais são normalmente transportadas em contêineres de 20 pés (contêiner standard das principais transportadoras internacionais) com capacidade para 21,92 t (Tradeworks, "Especificações de containers", anexo 21 da petição). 123. Quanto ao consumo de energia elétrica, com o intuito de aferir o coeficiente técnico, adotaram-se informações técnicas sobre a produção de magnésio metálico por meio do processo eletrolítico em Israel, constante no documento Proceedings of the Second Israeli International Conference on Magnesium Science & Technology (Magnesium 2000. Proceedings of the Second Israeli International Conference on Magnesium Science & Technology, anexo 12 da petição). Este processo operando com carnalita consome entre 19.000 e 20.000 kwh/t. Desta forma, a Rima utilizou, para fins de cálculo do valor normal construído, o consumo médio de 19.500 kwh/t. 124. Já o custo com energia elétrica, que é um dos principais itens que compõem o custo de produção do magnésio metálico, foi determinado com base nas tarifas publicadas para a Rússia no sítio eletrônico Global Petrol Prices (Disponível em www.globalpetrolprices.com, anexo 24 da petição). Com base em dados disponíveis para março de 2022, o preço da energia elétrica industrial na Rússia foi US$ 0,111/kWh. 125. Ainda conforme as informações técnicas sobre a produção de magnésio metálico por meio do processo eletrolítico em Israel, além da energia elétrica, o óleo combustível é outro insumo utilizado no processo eletrolítico pelos produtores russos. A publicação referida aponta que o consumo de óleo combustível na produção de magnésio metálico por esse processo está entre 900 e 1.150 kg/t. Assim, foi considerado, para fins de cálculo do valor normal construído, o consumo médio de 1.025 kg/t. 126. Para o custo do óleo combustível, foram considerados os preços médios de importação pela Rússia, em P5, conforme a base de dados disponível no Trade Map, isto é, de outubro de 2021 a janeiro de 2022, na condição FOB, utilizando-se os códigos de seis dígitos do Sistema Harmonizado (SH) referente a este produto. Ressalta-se que devido à invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, que resultou na guerra ainda em andamento, o Serviço Alfandegário Federal da Rússia (FCS) interrompeu temporariamente as estatísticas russas sobre importações e exportações (Disponível em https://tass.ru/ekonomika/14442469?utm_source=customs.gov.ru&utm_medium=referral& utm_campaign=customs.gov.ru&utm_referrer=customs.gov.ru. Acessado em 15 de março de 2023). Dessa forma, só há dados oficiais russos de comércio exterior no Trade Map até o quarto mês de P5 (janeiro de 2022). 127. Com relação às demais matérias-primas - pasta eletródica, cloreto de sódio e nitrogênio líquido - pelo fato de não haver informações disponíveis quanto ao consumo dos produtores russos para a fabricação de uma tonelada de magnésio metálico, os respectivos coeficientes técnicos foram determinados a partir dos custos de produção contabilizados pela Rima, considerando seus consumos médios por tonelada de magnésio metálico 99,8% produzido em P5. Os coeficientes técnicos para P5 foram calculados por médias ponderadas apuradas a partir dos coeficientes técnicos mensais. 128. No caso do nitrogênio, vale esclarecer que foi ainda necessário converter a unidade de medida, tendo em vista que a Rima contabiliza seu consumo em metros cúbicos (m3) ao passo que os dados sobre o volume das importações desse insumo pela Rússia são apresentados em kg nas estatísticas de comércio exterior. 129. Para a conversão de m3 para kg, utilizou-se como fator de conversão a densidade de 1,185 kg/m3, conforme sugerido pela peticionária. A partir do total de nitrogênio consumido em kg em P5, foi calculado o consumo unitário desse insumo por t de magnésio metálico 99,8% produzido no período. 130. Da mesma forma que para o óleo combustível (SH 2710.19), para as demais matérias-primas - pasta eletródica (SH 3801.30), cloreto de sódio (SH 2501.00) e nitrogênio líquido (SH 2804.30) - foram considerados os preços médios de importação pela Rússia, nos quatro primeiros meses de P5, conforme a base de dados do Trade Map, na condição FOB e utilizando-se os códigos de seis dígitos do SH para cada matéria-prima (anexo 18 da petição). 131. Até a data de elaboração deste documento, só haviam sido disponibilizadas no Trade Map os preços e os volumes de importação das matérias-primas importadas pela Rússia para os quatro primeiros meses de P5. Registra-se que a peticionária demonstrou que os preços disponíveis para os quatro meses iniciais de P5 são relativamente próximos aos preços praticados nos últimos 12 meses disponíveis (fevereiro/2021 a janeiro/2022). 132. Na sequência, aos preços unitários obtidos foram acrescidos os percentuais dos impostos de importação aplicados pela Rússia, conforme a base de dados Market Access Map do ITC, UNCTAD e OMC (Disponível em http://www.macmap.org. Acessado em 15 de março de 2023). 133. Ao somatório de preço e imposto de importação de cada matéria-prima, foram ainda adicionadas despesas de importação, com base na publicação Doing Business, do Banco Mundial (Doing Business 2020. Economy Profile. Russian Federation (Anexo 20 da petição). Foram considerados como base de cálculo das despesas de internação os custos referentes a "Cost to import: Border compilance [400 USD] + Cost to import: Documentary compliance [160 USD]", para Moscou, pág. 83.). Conservadoramente, destaca-se, não foram incluídas despesas adicionais de frete interno em relação a essas matérias-primas. 134. Para calcular a despesa de internação por t, considerou-se que, conforme já apontado acima, cada contêiner de 20 pés teria capacidade de 21,92 t. Dessa forma, a despesa de internação, que totalizou US$ 560,00, foi dividida por 21,92 t para se obter o valor das despesas de internação por t. 135. Para a mão de obra direta e a indireta, os coeficientes técnicos foram também baseados nos custos de produção contabilizados pela Rima nessas rubricas, considerando a quantidade de horas necessárias para a produção de uma tonelada de magnésio metálico 99,8%. Para estas duas rubricas, tomou-se por base o número médio de horas trabalhadas em cada rubrica na produção do magnésio metálico 99,8% pela Rima, em P5, considerando-se jornada de 44 horas semanais. O número resultante foi multiplicado pelo valor da hora-homem trabalhada na Rússia, calculada a partir dos salários médios do país no período, de outubro de 2021 a julho de 2022, sendo as informações mais recentes disponíveis, obtidas no sítio eletrônico Trading Economics (Disponível em https://tradingeconomics.com. Acessado em 15 de março de 2023). A conversão cambial de RUB para US$, obtida junto Bacen, disponível em http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ ptaxnpesq.asp?id=txcotacao, foi calculada com base na cotação média para P5, resultando na taxa de câmbio de RUB$ 72,95 por dólar estadunidense. 136. Os demais custos fixos e variáveis que compõem o valor normal - materiais diretos, gastos gerais de fabricação, depreciação, gastos com transporte - foram calculados com base no percentual a que cada rubrica correspondeu no custo de produção da Rima do produto similar, em P5. 137. Para calcular despesas gerais e administrativas, despesas comerciais e margem de lucro, foram obtidos os percentuais a que cada uma dessas rubricas correspondeu em relação ao custo do produto vendido do demonstrativo financeiro de 2020, documento mais recente disponível da Solikamsk. Destaca-se que no demonstrativo de 2020 houve receitas, ao invés de despesas financeiras. De forma conservadora, estas foram consideradas para fins de cálculo. 138. Os percentuais encontrados para cada despesa e margem de lucro foram então aplicados ao custo de produção construído para o magnésio metálico na Rússia. Nesse ponto, destaca-se que por se pressupor que as despesas de venda da Solikamsk incluem as despesas de frete, o valor normal obtido foi considerado como na condição delivered. 139. Por meio dos cálculos descritos acima, obteve-se então o valor normal construído para a Rússia, conforme sumarizado na tabela abaixo:Fechar