Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. Este documento pode ser verificado no endereço eletrônico http://www.in.gov.br/autenticidade.html, pelo código 05152024031200009 9 Nº 49, terça-feira, 12 de março de 2024 ISSN 1677-7042 Seção 1 216. Por se tratar de sobra ou subproduto, a Avisma comercializaria, segundo a peticionária, o magnésio metálico a preços inviáveis, inferiores a qualquer possibilidade de econômica de produção em condições de mercado, apenas para reduzir o custo de estoque e gerar receita para redução do custo dos produtos finais que são o seu foco comercial. 217. Já os negócios principais da Solikamsk são os produtos resultantes das terras raras, dentre os quais o titânio, em cuja produção a empresa também utiliza o magnésio metálico. Trata-se, portanto, de outro complexo industrial que combina titânio- magnésio, utilizando o magnésio metálico como insumo. 218. Embora a Solikamsk - diferentemente da Avisma - divulgue o magnésio metálico dentre os produtos que comercializa, os preços praticados revelariam a mesma ótica de subproduto, isto é, a comercialização/exportação do magnésio metálico a preços economicamente inviáveis (inclusive à luz da concorrência com preços chineses), apenas para gerar alguma receita que contribuísse para reduzir os custos de produção do titânio, de acordo com a Rima. 219. Assim, no entendimento da peticionária, os dois produtores russos de magnésio metálico fabricam o produto principalmente para consumi-lo como insumo (agente redutor) no processo produtivo de titânio, que no caso da Avisma é o produto principal e no caso da Solikamsk, um dos produtos principais. As "sobras" do magnésio metálico seriam comercializadas apenas para reduzir o custo do produto principal e diminuir custos de manutenção do estoque. 220. A produção de titânio metálico consome magnésio metálico para a redução do tetra-cloreto de titânio (TiCl4), gerando como subproduto o cloreto de magnésio (MgCl2). Este é subsequentemente reduzido eletroliticamente para magnésio e cloro, os quais são novamente consumidos no processo de produção de titânio. 221. A estequiometria da reação de redução do titânio pelo magnésio mostra que, teoricamente, se o processo estiver otimizado, é necessário consumir uma tonelada de magnésio para produção de uma tonelada de titânio. 222. No entanto, o processo de produção do titânio metálico consome mais magnésio metálico que a quantidade de cloreto de magnésio gerada na reciclagem, de forma que se necessita de uma fonte extra de magnésio metálico. A peticionária informou que este magnésio é um importante insumo para a produção de titânio. 223. A capacidade de produção russa de magnésio metálico foi obtida junto à publicação "2017 Minerals Yearbook - Magnesium [Advance Release]" do United States Geological Survey - USGS, sendo de 80 mil t/ano, o que posicionaria aquele país como segundo maior produtor mundial, atrás apenas da China. 224. Para a determinação do grau de ocupação da capacidade instalada, a peticionária apresentou os volumes de produção de magnésio metálico na Rússia obtidos junto às publicações "Mineral Commodity Summaries" do USGS. 225. Os dados estão sumarizados na tabela a seguir: Comparação do potencial exportador da Rússia com o mercado brasileiro Em t 2017 2018 2019 2020 2021 Capacidade produtiva de magnésio metálico na Rússia (A) 80.000 80.000 80.000 80.000 80.000 Produção de magnésio metálico na Rússia (B) 60.000 70.000 80.000 48.000 60.000 Ocupação da capacidade instalada da Rússia (C)=(B/A) 75,0% 87,5% 100,0% 60,0% 75,0% Consumo de magnésio metálico para a produção de titânio (D) 40.000 44.000 44.000 31.000 27.000 Total exportado pela Rússia de magnésio metálico (E) 5.687,2 4.546,6 4.735,3 6.684,1 5.742,9 Excedente comercializável (F)=(B-D-E) 14.312,8 21.453,4 31.264,7 10.315,9 27.257,1 Mercado brasileiro no período da investigação mais próximo (G) 100,0 P1) 100,0 (P1) 91,0 (P2) 101,0 (P3) 127,4 (P4) Excedente comercializável relativo ao mercado brasileiro (H)=(F/G) 100,0 150,0 241,7 70,8 150,0 226. Tendo em vista os dados disponíveis, apesar do relevante consumo cativo de magnésio metálico na produção de titânio na Rússia, aparentemente há efetiva produção de magnésio metálico disponível para comercialização. 227. Observa-se que em 2021 o excedente comercializável da Rússia - de 27.257,1 t - foi 3,6 vezes maior que o mercado brasileiro em P4. Em análise adicional, considerando a capacidade ociosa, o volume que poderia ser exportado da Rússia para o Brasil no último período da tabela (27.257,1 t + 20.000 t) corresponderia a [CO N F I D E N C I A L ] vezes o mercado brasileiro. 228. Considerando a informação apresentada pela peticionária no item 5.1.2, de que os dados oficiais de exportação emitidos pela Rússia em P5 são limitados aos quatro primeiros meses (de outubro de 2021 a janeiro de 2022), o Decom utilizou a opção mirror data do Trade Map para o levantamento dos dados das exportações de magnésio metálico da Rússia para o mundo nos períodos da investigação, com base nas informações dos países importadores, conforme descrito no item 8.3 adiante. Dessa forma, para comparação dos volumes das exportações com o mercado brasileiro, os volumes estão dispostos na tabela abaixo: Comparação entre exportações russas e o mercado brasileiro [CONFIDENCIAL] Em t. P1 P2 P3 P4 P5 Exportações da Rússia para o mundo (A) 5.332,8 4.815,5 6.525,0 5.552,6 5.949,9 Mercado brasileiro (B) 100,0 91,0 101,0 127,4 119,6 (A/B) [ CO N F. ] [ CO N F. ] [ CO N F. ] [ CO N F. ] [ CO N F. ] 229. Observa-se que os percentuais a que as exportações russas corresponderam ao mercado brasileiro em cada período variaram de [CONFIDENCIAL]%, respectivamente em P4 e P5. 230. Além disso, com base nos dados de exportações mundiais de magnésio metálico obtidas a partir dos direct data do Trade Map, em 2021 a Rússia foi o terceiro maior exportador mundial, conforme a tabela abaixo: Dez maiores exportadores mundiais no ano de 2021 Em t China 280.298 Turquia 7.614 Rússia 5.743 Países Baixos 4.248 EUA 3.885 Bélgica 3.657 Itália 1.804 Croácia 1.463 Alemanha 1.353 Eslovênia 1.166 Canadá 866 231. A peticionária não teve acesso a informações relativas aos estoques, custos e volume de vendas no mercado interno russo do produto objeto da revisão. 232. Registra-se que não houve participação de produtores/exportadores russos. Desse modo, não se obteve informações primárias acerca de estoques, custos e volume de vendas no mercado interno russo do produto objeto. A ausência de informações relativa a estes indicadores não prejudica, no entanto, a conclusão do Departamento acerca do potencial exportador russo. 233. Nesse sentido, para fins de determinação final, considerou-se que há elementos que indicam potencial exportador do produto sujeito ao direito antidumping originários da Rússia. 5.3.1. Das manifestações sobre desempenho do produtor/exportador da Rússia recebidas antes da nota técnica de fatos essenciais 234. Em 19 de dezembro de 2023, a Abal apresentou manifestação sobre os dados e as informações constantes nos autos do processo. 235. A Abal alegou que a Rússia, embora fosse uma grande produtora mundial de magnésio metálico, teria um baixo potencial exportador e não representaria uma ameaça à indústria doméstica brasileira. Isso se deveria, de acordo com a manifestante, em grande parte, ao fato de a maior parte da produção russa ser direcionada ao consumo interno para a fabricação de titânio, resultando em um excedente exportável limitado. 236. Segundo a Abal, O DECOM já teria reconhecido essa situação em uma avaliação de interesse público de 2019, destacando a limitação da Rússia como exportadora regular de magnésio metálico. A própria peticionária, conforme afirmou a manifestante, teria ressaltado essa questão, enfatizando que os produtores russos concentrar-se-iam na produção de titânio, não sendo o magnésio metálico o foco principal. Além disso, a produção russa de magnésio metálico teria diminuído em 13% entre 2021 e 2022, resultando em uma redução adicional na quantidade disponível para exportação, conforme indicado pelo Mineral Commodities Survey. 5.3.2. Das manifestações sobre desempenho do produtor/exportador da Rússia recebidas após a nota técnica de fatos essenciais 237. Em manifestação protocolada em 7 de fevereiro de 2024, a Abal apresentou suas considerações para fins de determinação final. 238. Em relação ao potencial exportador da Rússia, a Abal ressaltou que grande parte da produção russa de magnésio metálico seria destinada ao consumo interno para a produção de titânio, sendo o excedente exportado. No entanto, esse excedente estaria em queda, com uma redução significativa da produção russa de magnésio entre 2021 e 2022, enquanto a produção de titânio teria diminuído em menor proporção. 239. A manifestante evidenciou que o anúncio do governo russo sobre a transferência das ações da Solikamsk para uma empresa estatal de energia nuclear sugeriria que o magnésio excedente poderia ser utilizado para enriquecimento de urânio, reduzindo ainda mais a disponibilidade para exportação. 240. Além disso, de acordo com a Abal, a Rússia seria predominantemente uma importadora de magnésio metálico, tendo um histórico de balança comercial negativa desse produto. Considerando seu consumo interno e outras destinações, como a produção de energia nuclear, a Rússia não poderia ser considerada como tendo um alto potencial exportador de magnésio metálico. 5.3.3. Dos comentários do DECOM sobre desempenho produtor/exportador da Rússia 241. Com relação ao argumento da Abal relacionado ao direcionamento de parte substancial da produção de magnésio metálico russo para a fabricação de titânio, resultando em excedente exportável limitado, faz-se referência aos dados trazidos pela Rima no item 5.3 deste documento, em especial o quadro comparativo baseado nos dados do "2017 Minerals Yearbook - Magnesium [Advance Release]" do United States Geological Survey - USGS. Embora o magnésio metálico na Rússia seja principalmente utilizado na produção de titânio, o excedente comercializável estimado para 2021 resultou em mais de três vezes o mercado brasileiro. Ademais, o potencial exportador poderia ser de mais de seis vezes o mercado brasileiro caso se levasse em conta a capacidade ociosa russa, consoante detalhado no item citado. 242. No que tange ao argumento de que o excedente de produção de magnésio metálico estaria em queda, a Abal apresentou dados estimados de 2021 e 2022, com queda de 8 mil toneladas. Afora a questão de serem dados estimados, não ficou claro o motivo da queda de 8 mil toneladas ao passo que a produção de titânio caiu apenas 2 mil toneladas, tendo em conta que o magnésio é usado na Rússia, em grande medida, para a produção de titânio. 243. Ademais, a partir dos dados apresentar nos autos, percebe-se que há significativa oscilação na produção de magnésio metálico na Rússia. Conforme tabela apresentada no item 5.3, observou-se que a produção de magnésio metálico cresceu continuamente de 2017 a 2019: 60 mil toneladas em 2017; 70 mil toneladas em 2018; 80 mil toneladas em 2019; tendo recuado a 48 mil toneladas em 2020. Em 2021, houve nova recuperação da produção, atingindo 60 mil toneladas. Sublinha-se que a Abal não fez comentário sobre eventual redução da capacidade produtiva da Rússia. Desse modo, entende-se que, dada a característica histórica das oscilações na produção do magnésio metálico russo, não parece adequado concluir que a Rússia não tem potencial exportador a partir da oscilação da produção entre um intervalo de dois anos baseados em dados estimados. 244. Com relação às alegações da Abal de que o magnésio russo poderia ser utilizado para enriquecimento de urânio naquele país, aponta-se que tal informação foi apresentada em manifestação de 7 de fevereiro de 2024, após o encerramento da fase probatória em 29 de novembro de 2023, conforme descrito no item 2.8. Desse modo, tal elemento não será considerando para fins de análise, dada sua intempestividade. Mesmo que o fosse, a fonte referenciada tem por mote destacar que várias empresas importantes para a segurança nacional estão sendo estatizadas pelo governo russo, a fim de que os gestores dessas empresas estejam alinhados com o governo. Não há, na notícia, comentário dizendo que o magnésio metálico da Solikamsk vem sendo usado ou será usado para enriquecer urânio, mas apenas alusão de que o magnésio metálico pode ser usado na produção de urânio. Desse modo, a alegação da Abal de que o magnésio metálico pode ser usado para produção de urânio não passa de mera suposição. 245. Com relação ao argumento sobre balança comercial da Rússia referente ao magnésio metálico, em que pese ser negativa, observou-se que isso não impediu que a Rússia exportasse 5.949,9 t para o mundo em P5, conforme item 8.3.1 deste documento, o que representa mais de 85% do mercado brasileiro. Ademais, foram exportadas 3.918,3 t para os EUA, seu maior destino. 246. Desse modo, reafirma-se o entendimento já apontado em sede de nota técnica de fatos essenciais de que a Rússia apresenta potencial exportador. 5.4. Das alterações nas condições de mercado 247. O art. 107 c/c o inciso III do art. 103 do Decreto nº 8.058, de 2013, estabelece que, para fins de determinação de que a extinção do direito antidumping em vigor levaria muito provavelmente à continuação ou retomada de dumping nas exportações de magnésio metálico da Rússia para o Brasil, deve ser examinado se ocorreram eventuais alterações nas condições de mercado no país exportador, no Brasil ou em terceiros mercados, incluindo eventuais alterações na oferta e na demanda do produto similar. 248. No que se refere a novas plantas de fabricação, segundo a peticionária, apesar de que desde o final dos anos 1990 têm sido fechadas fábricas de vários países em razão das práticas desleais da China e da Rússia, haveria hoje crescente reconhecimento da importância estratégica do magnésio metálico, bem como interesse de vários governos em reduzir o grau de dependência externa para obter acesso a tal matéria-prima. 249. Autoridades europeias e estadunidenses, nesse sentido, inseriram o magnésio em listas de matérias-primas cujo suprimento é considerado "crítico". A "Global Magnesium Industry Overview - 2021: A Year Like No Other", publicado pela consultoria especializada CM Group indica a percepção sobre o valor estratégico da indústria de magnésio, apontando o alto risco de depender de oferta estrangeira. 250. A preocupação explica-se pelo fato de o magnésio ser, efetivamente, um produto estratégico. Trata-se do mais leve dentre os metais estruturais, o que o torna crucial para o futuro da indústria, que exigirá cada vez mais aplicações que demandem peso leve e alta resistência, como, por exemplo, para fabricação de veículos elétricos. Além disso, o magnésio é extremamente versátil, tendo aplicações crescentes e indispensáveis não somente na indústria do alumínio, como também na indústria química, automotiva, aeroespacial, siderurgia, eletrônica (computadores e celulares) e de defesa, dentre outras. Ele é também redutor de metais estratégicos e raros, como titânio, zircônio, urânio, berilo, boro e nióbio. 251. Há ainda diversos novos desenvolvimentos de vanguarda tecnológica a partir do magnésio, destacando-se, por exemplo, possibilidade de uso desse metal em células de estocagem de hidrogênio para uso comercial como combustível, além de diversas aplicações medicinais, como implantes para cirurgias ortopédicas, substituindo próteses e pinos tradicionalmente fabricados com outros metais mais agressivos ao corpo humano.Fechar