DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO AMAZONAS Manaus, quarta-feira, 13 de março de 2024 3 C om o objetivo de avaliar a saúde de pei- xes e tartarugas em ambientes aquáti- cos da Amazônia, projeto apoiado pelo Governo do Amazonas, via Fundação de Am- paro à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), anali- sa por meio do biomonitoramento o efeito da ação do homem em três igarapés urbanos da cidade de Manaus e em Unidades de Conser- vação (UCs). A pesquisa faz parte do Programa Universal Amazonas, edital n° 006/2019. Intitulado “Biomonitoramento de ambientes aquáticos da Amazônia: abordagem com bio- marcadores de exposição e efeito”, o estudo é coordenado pela pesquisadora Fabíola Domin- gos Moreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Pesquisadora na área de Ecotoxicologia, a ciência que estuda os impactos ambientais causados por substâncias químicas naturais ou artificiais em organismos vivos, Fabíola Moreira explica que o biomonitoramento permite inves- tigar a saúde do meio ambiente através da ava- liação dos organismos aquáticos que ali vivem. Ela revela que o estudo pode ajudar a compre- ender quais serão as consequências para a pes- ca e para a saúde humana na região amazônica. “Trabalhamos em três vertentes. A avaliação da saúde de tartarugas em unidades de conser- vação, a avaliação da saúde de peixes expostos a água de igarapés urbanos de Manaus e a ava- liação das concentrações de alguns metais em peixes coletados dentro e fora de unidades de conservação da Amazônia”, explicou. As pesquisas foram realizadas nos igarapés localizados no Conjunto Nova República; na Universidade Federal do Amazonas (Ufam); no Inpa Campus III; bem como no Lago Catalão em Manaus; na Reserva Biológica do Abufari (REBIO-AB), em Tapauá (distante a 449 quilô- metros da capital); e na Reserva de Desenvol- vimento Sustentável Piagaçu-Purus (RDS-PP), que abrange os municípios de Anori e Beruri (respectivamente, a 195 e 173 quilômetros de Manaus), e de Tapauá. Entre as espécies analisadas estão o tracajá e peixes, como bodó, aracu e peixe-cachorro. Além disso, foi selecionada uma espécie repre- sentativa dos ambientes de Igarapé, o acará. A pesquisa indicou ainda os impactos negativos da poluição urbana sobre esse tipo de peixe. “Observamos respostas bioquímicas, geno- tóxicas e teciduais muito mais intensas nos pei- xes expostos aos igarapés urbanos do que nos peixes do igarapé íntegro, indicando alterações na qualidade de vida desses animais”, destacou a cientista. Ao identificar que os tracajás examinados na RDS Piagaçu-Purus estão em boas condições de saúde, a pesquisadora avalia que isso é resul- tado da qualidade da água. O estudo detectou que, de acordo com a legislação vigente (Anvi- sa, Portaria nº 685, 1998), a maioria dos metais (cromo, níquel, cobre, zinco e ferro) verificados nas espécies de peixes coletadas na RDS Piaga- çu-Purus e Lago Catalão estão dentro dos limites apropriados para consumo humano. Mas a pesquisadora Fabíola Moreira ressalta a importância da realização de pesquisas apro- fundadas, no caso de excesso de metais pesa- dos. Em laboratório, as informações reunidas foram trabalhadas de forma interdisciplinar, relacionando conhecimentos de áreas como: biologia, histologia, bioquímica, genética e química ambiental. E explica que segundo estudos prévios re- alizados no Inpa, a diferente distribuição de peixes nos igarapés urbanos de Manaus tem se dado pelo alto grau de impacto causado pela poluição, pelas alterações climáticas e pela ur- banização. “A urbaniza- ção é necessária e inevi- tável. No entanto, pode e deve ser feita conciliando e respeitando as caracte- rísticas originais dos am- bientes”, argumentou. Ela defende que os efluentes gerados (resí- duos provenientes das atividades humanas) no dia a dia e nas ativida- des industriais precisam ser coletados, tratados e descartados adequada- mente. Para isso, é ne- cessário conscientizar a população e implemen- tar programas de reuti- lização e reciclagem de forma efetiva. “Nosso estudo de- monstra a importância da utilização de biomar- cadores. Os resultados podem ser úteis para re- verter a atual situação de igarapés impactados pela urbanização na cidade de Manaus antes que consequências ecológicas mais severas se- jam observadas”, alertou. Com a intenção de promover mudanças positivas, a ideia é disponibilizar os resultados do projeto ao Programa Monitora, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversida- de (ICMBio), para composição de um banco de dados com informações que auxiliem no ma- nejo e conservação de peixes e tartarugas nas Unidades de Conservação avaliadas na pes- quisa. A expectativa é que a longo prazo, os resultados da pesquisa também possibilitem a implementação de políticas públicas que valo- rizem a importância dos ambientes aquáticos da Amazônia. Programa Universal Amazonas Por meio do Programa, a Fapeam visa finan- ciar atividades de pesquisa científica, tecno- lógica e de inovação, ou de transferência tec- nológica, em todas as áreas do conhecimento, que representem contribuição significativa para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do Amazonas em instituição de pes- quisa ou ensino superior ou centro de pesqui- sa, públicos ou privados, sem fins lucrativos, com sede ou unidade permanente no Estado do Amazonas. O estudo amparado pela Fapeam investiga os impactos nos peixes e tartarugas de igarapés urbanos e unidades de conservação Pesquisa avalia a qualidade de ambientes aquáticos da Amazônia Divulgação/Acervo da pesquisadora Fabíola Moreira O estudo é coordenado pela pesquisadora Fabíola Domingos Moreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) VÁLIDO SOMENTE COM AUTENTICAÇÃOFechar