DOU 14/06/2024 - Diário Oficial da União - Brasil

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Nº 113, sexta-feira, 14 de junho de 2024
ISSN 1677-7042
Seção 1
ANEXO
POLÍTICA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS - PNCP
(Anexo XLIV à Portaria de Consolidação GM/MS nº 2, de 28 de setembro de 2017)
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Cuidados Paliativos - PNCP no
âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.
§ 1º Para os fins deste Anexo, compreende-se como cuidados paliativos as
ações e os serviços de saúde para alívio da dor, do sofrimento e de outros sintomas em
pessoas que enfrentam doenças ou outras condições de saúde que ameaçam ou limitam
a continuidade da vida.
§ 2º As ações e serviços públicos de saúde de que trata o § 1º abrangem
abordagens de tratamento e prevenção destinadas tanto à pessoa cuidada quanto aos
seus familiares e cuidadores.
Art. 2º São princípios da PNCP:
I - valorização da vida e consideração da morte como um processo natural;
II - respeito aos valores, crenças e práticas culturais e religiosas da pessoa
cuidada;
III - respeito à autonomia do indivíduo, com atenção especial na tomada de
decisão substituta no caso de crianças e pessoas curateladas ou tuteladas, resguardados
os princípios bioéticos dos códigos profissionais e das leis relacionadas ao tema;
IV - oferta dos cuidados paliativos em todo o ciclo de vida, de forma indistinta para
pessoas em sofrimento por qualquer condição clínica que ameace a continuidade da vida;
V - início das investigações necessárias para melhor compreender e controlar
situações clínicas que ameacem a continuidade da vida;
VI- início precoce dos cuidados paliativos, ofertados em conjunto com o
tratamento da doença;
VII - promoção da melhoria do curso da doença e reconhecimento do
sofrimento em suas dimensões física, psicoemocional, espiritual e social;
VIII - aceitação da evolução natural da doença, não acelerando a morte e
recusando tratamentos e procedimentos diagnósticos que possam causar sofrimento ou
medidas que venham a prolongar artificialmente o processo de morrer;
IX - promoção de modelo de atenção centrado nas necessidades de saúde da
pessoa cuidada e de sua família, incluindo o acolhimento ao luto;
X - prestação do cuidado
paliativo por equipe multiprofissional e
interdisciplinar;
XI- comunicação sensível e empática, com respeito à verdade e à honestidade
em todas
as questões
que envolvem
pessoas cuidadas,
familiares, cuidadores
e
profissionais; e
XII - observância à Diretiva Antecipada de Vontade - DAV da pessoa
cuidada.
§ 1º No âmbito dos cuidados paliativos, as dimensões de que trata o inciso VII
do caput podem ser compreendidas da seguinte forma:
I - física: compreende ações de tratamento e gerenciamento de sintomas como
dor, dispneia, desconforto e náuseas, por meio do uso de medicamentos em tempo
oportuno e dosagem adequada, técnicas não farmacológicas e abordagens terapêuticas
para fornecer conforto à pessoa;
II - psicoemocional: suporte psicológico e emocional à pessoa cuidada, bem
como aos seus familiares e/ou cuidadores, de forma contínua e humanizada, por meio de
comunicação
empática,
escuta
ativa
e
outras ações
para
promover
o
alívio
do
sofrimento;
III - espiritual: identificação do desejo
da pessoa de comunicar suas
necessidades espirituais, por meio de escuta competente e sensível, facilitando a
discussão sobre questões espirituais e existenciais e, conforme o caso e a disponibilidade,
viabilizando a assistência espiritual de acordo com a crença e a vontade da pessoa; e
IV - social: compreende ações para preservar a inserção e o convívio social da
pessoa, viabilizando o acesso a todos os recursos necessários para que possa seguir com
o seu tratamento e ter uma boa qualidade de vida com respeito à sua autonomia.
§ 2º A DAV de que trata o inciso XII do caput compreende o testamento vital
ou outro documento em que haja registro expresso das preferências da pessoa com
relação a tratamentos ou outras medidas de cuidado quando em condições de saúde
irreversíveis e potencialmente terminais.
Art. 3º São diretrizes da PNCP:
I - ampliação dos cuidados paliativos e acesso universal a eles em todos os
pontos de atenção da Rede de Atenção à Saúde - RAS, com equidade, integralidade,
qualidade assistencial e humanização no atendimento;
II - promoção da regionalização dos serviços de cuidados paliativos em
consonância com as pactuações regionais e macrorregionais;
III - regulação assistencial transparente, com base em diretrizes clínicas e
estratificação para prioridade no alívio do sofrimento;
IV - fortalecimento da atenção primária como coordenadora do cuidado e
ordenadora da RAS, por meio da corresponsabilização, integralidade do cuidado e
compartilhamento das decisões de saúde entre os pontos de atenção da referida rede;
V - estímulo a ações de sensibilização na RAS para o uso racional de
opioides;
VI - fomento à coordenação do cuidado e à continuidade assistencial, por meio
de planejamento da estruturação dos fluxos assistenciais na oferta de serviços de
cuidados paliativos;
VII- fomento ao autocuidado apoiado e à prevenção de doenças, bem como ao
diagnóstico precoce e ao tratamento modificador da doença;
VIII - estímulo a práticas de gestão e de processos de trabalho que assegurem
a inserção das ações de cuidado paliativo em toda a RAS;
IX-
estímulo ao
uso
de soluções
de
telessaúde
visando assegurar
a
continuidade do cuidado e evitar deslocamentos e procedimentos desnecessários à pessoa
cuidada;
X - estímulo à elaboração de um conjunto de medidas e recursos sociofamiliares
que preservem ao máximo a autonomia da pessoa em seu modo de viver;
XI - estímulo à adoção de estratégias de educação em cuidados paliativos;
XII - estímulo à participação da sociedade e à atuação do controle social, por
meio dos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde, no processo de
implementação, monitoramento e avaliação da PNCP;
XIII - incentivo e apoio ao desenvolvimento de comunidades compassivas,
reforçando o papel de articuladoras no território;
XIV- reconhecimento e respeito às diversidades socioculturais e aos diversos
modos de vida, promovendo o enfrentamento do racismo estrutural, da aporofobia e do
capacitismo; e
XV - fomento à produção e disseminação de conhecimentos, à inovação e ao
desenvolvimento científico e tecnológico no campo dos cuidados paliativos, por meio da
articulação entre governos e instituições de ensino, pesquisa e/ou desenvolvimento.
Parágrafo único. As comunidades compassivas de que trata o inciso XIII do
caput são iniciativas de cunho voluntário e comunitário destinadas a apoiar pessoas com
doenças que ameaçam a continuidade da vida e seus familiares, ampliando o acesso aos
cuidados paliativos.
Art. 4º São objetivos da PNCP:
I - integrar os cuidados paliativos à RAS, com ênfase na atenção primária;
II - promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas em cuidados
paliativos, por meio de atenção à saúde segura e humanizada;
III - ampliar a disponibilidade de medicamentos que promovam o controle
seguro dos sintomas da pessoa em cuidados paliativos;
IV - estimular a formação, a educação continuada, valorização, provimento e
gestão da força de trabalho em cuidados paliativos no âmbito do SUS; e
V - promover a conscientização e a educação sobre cuidados paliativos na
sociedade.
CAPÍTULO II
DAS AÇÕES E SERVIÇOS DA PNCP
Art. 5º No âmbito da PNCP, as ações e os serviços assistenciais de cuidados
paliativos deverão ser ofertados em todos os pontos de atenção da RAS, para todas as
pessoas que tenham indicação, o mais precocemente possível.
Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput, as equipes assistenciais dos
pontos de atenção da RAS contarão com o apoio de Equipes Matriciais de Cuidados
Paliativos - EMCP e de Equipes Assistenciais de Cuidados Paliativos - EACP, conforme
Seção III deste Capítulo.
Art. 6º A PNCP contemplará ações de estímulo à educação em cuidados
paliativos com incentivo:
I - à formação e educação continuada de profissionais da RAS; e
II - à realização de atividades educativas direcionadas à população em geral.
Art. 7º As ações de assistência farmacêutica no âmbito da PNCP deverão
considerar:
I - a conformidade com a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais -
RENAME e as Relações Municipais de Medicamentos Essenciais - REMUME, conforme as
especificidades locais e regionais; e
II - a utilização de Protocolos Clínicos e Diretrizes Assistenciais - PCDT dentre
outros documentos técnicos e normativos emitidos ou indicados pelo Ministério da Saúde.
SEÇÃO I
Das atribuições das equipes assistenciais
Art. 8º No contexto dos cuidados paliativos, as equipes assistenciais e
respectivos profissionais dos pontos de atenção da RAS devem:
I - realizar avaliações abrangentes da pessoa cuidada para promoção do alívio
da dor e outros sintomas, considerando suas necessidades físicas, psicológicas,
emocionais, espirituais e sociais;
II - elaborar plano de cuidados paliativos para execução continuada e integrada
à RAS, com navegação do cuidado, conforme o caso;
III - realizar controle de sintomas físicos, em tempo oportuno, promovendo o
máximo de conforto e qualidade de vida à pessoa;
IV - realizar escuta qualificada das necessidades espirituais e providenciar a
assistência desejada, conforme a crença e a vontade da pessoa;
V - manter comunicação aberta com a pessoa e sua família ou cuidador,
favorecendo a troca de informações sobre a condição clínica da pessoa cuidada, opções
de cuidados e expectativas quanto ao processo de cuidados paliativos;
VI - atuar para a tomada de decisão compartilhada, manifestação e
formalização das preferências da pessoa em cuidados paliativos, por meio de DAV e em
conformidade com os preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA e da
Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança;
VII - aplicar protocolos de comunicação envolvendo a pessoa, respeitando suas
particularidades e necessidades, bem como seu direito à recusa de tratamentos e
procedimentos, à autodeterminação e ao alívio da dor e, quando necessário, acionar o
comitê de bioética respectivo, conforme estabelecido pelas normas da instituição e dos
Conselhos Profissionais; e
VIII - prestar assistência no processo de luto e nos cuidados pós-morte aos
familiares da pessoa cuidada.
Parágrafo único. Para os fins do disposto no inciso II do caput, a navegação do
cuidado compreende as ações realizadas pelos profissionais das equipes de saúde para
apoio à pessoa e família na superação de eventuais barreiras no itinerário terapêutico,
evitando interrupções no cuidado.
SEÇÃO II
Das competências e atribuições dos pontos de atenção da RAS
Art. 9º No contexto dos cuidados paliativos, são competências e atribuições
dos pontos de atenção da RAS:
I - atenção primária: abrange a oferta de um conjunto de ações de saúde em
cuidados paliativos, no âmbito individual e coletivo, por meio dos diferentes tipos de
equipe existentes, nas unidades básicas de
saúde, domicílios e territórios, com
fundamento na Portaria GM/MS nº 2.436, de 21 de setembro de 2017;
II - atenção domiciliar: indicada para pessoas que necessitam de cuidados
paliativos em situação de restrição ao leito ou domicílio, ofertada por equipes da atenção
primária ou de Serviços de Atenção Domiciliar/Programa Melhor em Casa, atuando em
articulação com a família, RAS e comunidade do território, de forma que o domicílio seja
o principal local de cuidado, observando-se o Projeto Terapêutico Singular - PTS explícito
no prontuário domiciliar;
III - ambulatórios de atenção especializada: deverão ser estruturados para
promover cuidado longitudinal conforme momento clínico da doença, podendo ser o
ponto de atenção principal do cuidador ou matriciador, auxiliando no controle de
sintomas e na melhoria da qualidade de vida da pessoa cuidada, de forma integrada aos
demais dispositivos da RAS e desde que decidido em conjunto com a pessoa e/ou
família;
IV - serviço de urgência: prestará cuidados paliativos para alívio dos sintomas
agudizados, garantindo o conforto e a dignidade da pessoa, assim como de seus familiares
e cuidadores, nas suas diversas modalidades e considerando as particularidades de
atendimentos da rede, conforme se segue:
a) disponibilização de transporte sanitário para garantir cuidado digno e
deslocamento adequado, em tempo oportuno;
b) atuação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU 192 nos
casos de remoção da pessoa de um ponto de atenção, domicílio ou via pública para outro
ponto de atenção da RAS, considerando a regulação médica e com foco na promoção do
conforto, desde que decidido em conjunto com a pessoa e/ou família;
c) realização de atendimentos de intercorrências de agravamento de sintomas,
processo ativo de morte e óbito domiciliar pelo SAMU 192 visando ao controle de
sintomas, conforto da pessoa e apoio ao processo de morte e luto familiar, em especial
no período
noturno e
finais de
semana, garantindo
a atestação
do óbito
em
documentação regulamentada; e
d) reconhecimento e tratamento de pessoas em situação de cuidados
paliativos para alívio da dor e demais sintomas não controlados em domicílio ou
ambulatório pelas Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h e PA;
V - atenção hospitalar: voltado a acolher e direcionar o planejamento do
cuidado, incluindo controle de sintomas, construção e revisão do plano avançado de
cuidados, acompanhamento do processo ativo de morte, bem como acolhimento e
orientações à família durante o processo da doença e luto; e
VI - unidades e hospitais especializados em cuidados prolongados: devem
realizar a abordagem em cuidados paliativos para as pessoas sob seus cuidados que
atendam critérios de elegibilidade.
Parágrafo único. A equipe de atenção primária poderá realizar os cuidados
paliativos de forma integrada com os outros pontos de atenção da RAS, utilizando-se do
mesmo plano de cuidado.
SEÇÃO III
Das equipes matriciais e assistenciais de cuidados paliativos
Art. 10. Serão implementadas equipes matriciais e assistenciais de cuidados
paliativos, distribuídas de acordo com as regiões/macrorregiões de saúde, conforme
descrito nesta Seção.
Parágrafo único. A PNCP contará com dois tipos de equipes de cuidados
paliativos:
I - Equipe Matricial de Cuidados Paliativos - EMCP; e
II - Equipe Assistencial de Cuidados Paliativos - EACP.
Subseção I
Da EMCP
Art. 11. A EMCP se constituirá como uma equipe interdisciplinar com território
de atuação definido por população de uma macrorregião de saúde, de gestão estadual,
responsável por realizar apoio aos pontos de atenção da RAS na atuação em cuidados
paliativos, 
por 
meio 
de 
ações 
matriciais 
de 
sensibilização, 
capacitação 
e
corresponsabilização.
§ 1º As EMCP poderão ser implementadas na proporção de uma equipe para
cada fração de território com 500.000 (quinhentos mil) habitantes de uma mesma
macrorregião de saúde.

                            

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